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Mulheres na tecnologia: um bate-papo com a organizadora do Cloud Girls
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Neste Dia das Mulheres, nós conversamos com a Ana Luca Diegues, Coordenadora de Estratégia de Dados do Itaú Unibanco, sobre as barreiras à entrada de mulheres no mercado de Tecnologia da Informação e o projeto Cloud Girls, do qual é co-organizadora. Criado em março de 2017, o Cloud Girls têm hoje mais de 4900 membros e 14 meetups realizados, com o objetivo de criar um ambiente confortável para que as mulheres possam fazer perguntas e compartilhar conhecimento sem a pressão de estar em um ambiente majoritariamente masculino.

A área de Tecnologia da Informação ainda é predominantemente masculina. Por que você você acha que isso acontece?

Acredito que tudo tem um contexto, e carrega o histórico deste contexto por muitos anos. Não acredito que existe uma razão somente individual que seja responsável pelo esvaziamento das mulheres nas áreas de STEM (sigla em inglês para Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática), mas posso citar alguns: o primeiro deles é que socialmente a mulher foi criada para valorizar profissões que tenham o objetivo final de cuidar dos vulneráveis da sociedade, como as crianças, animais e idosos. Por isso as profissões de cuidados são majoritariamente femininas, como a educação infantil, a pediatria, a veterinária… E isto não é reflexo de uma condição biológica e sim de uma condição social, as meninas são cobradas mais cedo a ajudar em casa (isso quando não são as únicas), de cuidar dos irmãos mais novos, todos os brinquedos e brincadeiras são de cuidado e limpeza, que reforçam esse esteriótipo de trabalho por um propósito maior que si mesmo, além disso uma mulher ambiciosa não é bem vista socialmente, os homens ambiciosos são vistos como poderosos, as mulheres como megeras e mesquinhas. Se você procurar a primeira turma de ciências da computação da USP você verá que mais de 70% da classe era feminina. O que há é um esvaziamento feminino quando há uma ocupação masculina. Quando o curso foi trazido para o Brasil, a profissão ainda não era valorizada, havia pouco espaço de trabalho em tecnologia, conforme a profissão cresce, a ocupação masculina avança, e as mulheres abandonam o curso.

Você acredita que seja possível mudar essa realidade? Como?

Sim, acredito totalmente. Mas precisamos de diferentes ações em diferentes áreas. Para emancipação verdadeira das mulheres e para termos um cenário de equidade, precisamos de mais mulheres na política, somente assim teremos representantes que entendam as necessidades dos diferentes grupos sociais e étnicos na sociedade brasileira. Aliás esse é um dos índices que o Fórum Econômico Mundial acompanha anualmente através do relatório “Gender Gap”. E é o de maior impacto, pois mesmo em países que a emancipação econômica é mais desenvolvida que no Brasil, o salto de igualdade não é o suficiente. Na área de tecnologia especificamente, precisamos educar as meninas sem viéses, com brinquedos que estimulem a criatividade e o raciocínio lógico. Ter professores preparados para estimular e reconhecer o bom desempenho das meninas em exatas (como comprovadamente não acontece). Com ações de representatividade e empoderamento para as meninas que já escolheram a área, criando uma comunidade de apoio e encorajamento.

O que motivou a criação do Cloud Girls?

A frequência menor que 10% das mulheres na comunidade AWS User Group SP. O Cloud Girls foi idealizado pelo Danilo Alves na comunidade de usuários da AWS e estou com ele como co-organizadora desde o primeiro MeetUp.

Por que criar um projeto para mulheres voltado especificamente para o mercado da Computação em Nuvem?

Primeiro porque é o assunto que todos têm interesse nesse momento, e que é a base que impulsiona a transformação digital das empresas. Nós queríamos criar um ambiente seguro para que elas possam perguntar, apresentar, compartilhar conhecimento, sem a pressão e tensão que existe normalmente quando o ambiente é majoritariamente masculino.

Em março de 2019, o Cloud Girls completa dois anos, com treze meetups realizados em São Paulo e um no Rio de Janeiro. Como você avalia essa trajetória? O que planeja para o futuro?

Acredito que a gente tenha aprendido bastante nesse período, sobre os diferentes tipos de necessidades das meninas, o quão mais difícil é para as meninas negras e trans, por exemplo. Nós temos mulheres que já estão há muito tempo na área e estão em fase de transição e meninas que acabaram de sair da faculdade e estão começando agora. Então é preciso reconhecer essa diversidade dentro do grupo de mulheres, entender essas nuances para que possamos nos apoiar mutuamente. Nós estamos trabalhando com um projeto, que ainda está em fase de ideação, que posso adiantar somente que envolve a geração Z.

O que você sugere para mulheres que querem estudar TI ou que estão ingressando no mercado de trabalho?

Se envolva nas comunidades com os temas que lhe chamam atenção, desta forma você terá um grupo de apoio quando parecer muito difícil enfrentar uma engrenagem que quer que acreditamos que aquele não é o nosso espaço, além de já criar um network poderoso para o ingresso no mercado de trabalho. Mantenha-se animada, a jornada pode ser exaustiva, mas vale muito a pena! A tecnologia nos empodera de auxiliar a criação do mundo que queremos, eu acredito muito nisto.

Leia também o artigo 16 iniciativas de Tecnologia da Informação voltadas para mulheres!

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